CD - Terreiro da T'Inês
A figura da Ti Inês do Rochão tem sido motivo de investigação e de alguma controvérsia, porquanto se trata de uma mulher cuja vivacidade e apanágio outorgou ao Brinco d’Oito o seu lugar de ex libris no folclore do Rochão. Quando interpelamos os mais idosos, do Rochão, acerca dos bailes de antigamente, regra geral aparece a designação Brinco d’Oito, principalmente aquele executado no terreiro da casa da Ti Inês (muitas vezes também executado no interior, junto à lapinha…), por alturas da Festa (Natal), pois era nesta quadra festiva onde havia mais liberdade e, isentos de qualquer tipo de censura, as raparigas e os rapazes imiscuíam-se mais facilmente e, aí, o Brinco d’Oito era verdadeiramente extenuante e autêntico. Carlos Santos, relativamente a esta circunstância, refere o seguinte: "Para apreciar os verdadeiros bailes é preciso esperar pelo Natal e entrar na casa dos camponeses." Após várias interrogações à expressão bucólica e contida do passo e atitudes desta dança concluímos, tal como Carlos Santos, "O bailinho d’Oito (...) apresenta passo próprio (...) o passo rasteiro das mulheres é simples questão de compostura, que alguns homens também usam,". Atrever-nos-íamos a afirmar que este passo é consequência da duração desta dança pois, consoante o "mandador", podia prolongar-se até duas horas ou mais. Após leitura e análise documental, concluímos também que se trata de uma contradança, proveniente das antigas quadrilhas francesas ou das contradanças britânicas que, na Camacha, tiveram especial predileção, havendo quem o designasse de Baile das Camacheiras. A Ti Inês casou muito cedo, contando apenas doze anos, com um homem mais velho, da família dos Guisses, ficando viúva também muito cedo. Desposou segunda vez com Manuel Jacaça, conhecido por o Colchete. A lapinha da Ti Inês era o mote para reunião social. De quase todos os sítios da Camacha acorriam, àquela casa de palha modesta, com o seu banco de pedra com assentos igualmente de pedra (onde as mulheres das redondezas se reuniam para bordarem) foliões com seus instrumentos musicais e aí o Brinco D’Oito era bailado de forma sublime. Piedade Ornelas (vivenciou in loco…) a este propósito refere que eram bailes muito demorados, pois "todos os pares iam bailar uma vez ao meio e Francisco Ornelas - o Feiticeiro - era o melhor "mandador" de Bailes d’Oito. Chegava a variar marcações durante duas horas. Para além do Baile D’Oito era usual executarem a Viuvinha (possivelmente uma Mourisca antiga da Camacha…), intitulada de “Baile de Desenjoo”, pois era feita para quebrar o “desgaste” do Baile D’Oito. Igualmente, alguns bailadores adotavam aquilo a que chamavam de “Baile de Cócoras” para gáudio e carolice de alguns, e, claro, para aguentar a noite inteira, o Charamba era sempre presença assídua.